domingo, 10 de junho de 2012

PEQUENA ÁFRICA







No começo do século passado, uma ampla área da cidade do Rio de Janeiro, entre o cais do porto e os bairros da Saúde, Cidade Nova e Praça Onze, era conhjecida entre os cariocas como Pequena África. O ambiente repleto de candomblés, como o de João Alabá, de exímios capoeiristas e de baianas trajadas com panos-de-costa não deixaa dúvidas sobre a origem de seus moradores – era uma gente que trazia no sangue a herança de um continente do qual só sabiam estar do outro lado do oceano. Seus antepassados eram de lugares distantes como Benin ou Moçambique, mas o maior número de africanos havia sido trazido em navios negreiros para o Brasil do reino de Ndongo, onde hoje está parte de Angola e do Congo. Após a abolição da escravatura, o Rio de Janeiro tornou-se um destino preferencial para milhares de ex-escravos que buscavam trabalho na capital.

Os angolanos se auto-denominam muangolés. Cabelo feito, eles saem nas noites de sexta e sábado para dançar ritmos populares de seu país, como kizomba e kuduro, nas boates Nautilus e Luanda Night, ou semba, no Centro Cultural Ifétunji. Os jovens adeptos do movimento hip hop, por sua vez, lotam o velho casarão da Federação dos Blocos Afros do Rio de Janeiro (Febarj), bem em frente aos famosos Arcos da Lapa.

Freqüentadores assíduos da noite, os rappers Ala X, Kacucula e BigMani compõem músicas que lembram o passado trágico que deixaram em Luanda, capital de seu país. Ala X, que assumiu esse nome ao se converter ao islamismo, teve o pai morto na guerra angolana. Sem pensão do Estado, acabou, como outras milhares de crianças do país, tentando a sobrevivência nas ruas. Trabalhou, roubou, fez um pouco de tudo, até vir para o Brasil.

Na favela da Maré, o grupo Diamante Negro ensaia a peça A história do Rei Kipakassa, baseada numa parábola tradicional.O texto fala de um rei autoritário que, após a morte, é substituído pelo filho, uma pessoa que compreende melhor os desejos de seus súditos e garante um futuro melhor. É isso, no fundo, o que os imigrantes do Rio desejam para seu país: um novo tempo de paz para reconstruírem seus antigos sonhos. Até o dia de atravessar o Atlântico e voltar para casa.
http://viajeaqui.abril.com.br/materias/imigrantes-angola?pw=2 

Nenhum comentário:

Postar um comentário