sábado, 9 de junho de 2012

ÁFRICAS





Não há uma unidade cultural na África, o que existia era certa diversidade, grandes valores que são comuns ao grande continente.  Os africanos desenvolviam práticas agrícolas como irrigação e rotação de cultura e sabiam também misturar tipos de cultura num mesmo terreno e trouxe isso para o Brasil.  A África já conhecia a metalurgia do ferro (600 a.C) usavam o pré-aquecimento dos fornos (pequenos), sabiam procurar ouro tanto nas minas como nos rios, além de saber trabalhá-los, isso também foi trazido para o Brasil. Até o final do século XVII os Akan da República de Gana compravam escravos dos portugueses e pagavam com ouro. No começo do século XVIII invertem, os portugueses passam a comprar escravos da República de Gana, pagavam com ouro e os traziam para América. Tinham a tradição de tecelagem com o tear vertical (masculino) e o horizontal (feminino). Na África Ocidental quase todas as casas tinha tear. Na Guiné Bissau, eram famosos os tecidos para exportação, belos tecidos feitos com a seda tecida por uma determinada aranha. São numerosas as religiões africanas, mas o culto dos orixás só existe na Nigéria e Benin. Cada povo tem sua religião e seus deuses, em certas áreas tem divindades que só pertencem a esse local e ás vezes até as famílias. O que é comum nas religiões é o Ser Supremo, que o homem não tem acesso. 
Na África convivem diferentes organizações políticas. Existem micros estados fortemente hierarquizados socialmente, sendo revezados entre famílias. Não existia a mobilização social.
A África é múltipla e poligâmica o homem pode ter muitas mulheres, porém elas não são subordinadas a eles, não são sustentadas pelos homens, elas tem suas próprias casas e são visitadas pelo marido, que são hospedes apesar da casa ter sido dada por eles. O homem precisava ser rico e quem escolhia as outras mulheres para o marido era a mulher mais velha. Casamento pressupõe o pagamento da noiva, isso era uma forma de valorizar a mulher (Cultura Ioruba). Quem trabalha é a mulher, o comércio era coisa de mulher, elas costumavam ser mais ricas que o marido. Controlavam o varejo e o atacado. A condição social da mulher na África, na chegada dos europeus, era superior da mulher européia. A criança quando nasce a mãe se dedica totalmente a ela por dois ou três anos e todas as outras esposas também são mães da criança. 
O velho é venerado e reverenciado, não se fala com o velho na mesma altura do olhar. É considerado perigoso, pois está mais perto da morte, ou seja, de se tornar divindade. 
As casas da Europa quando chega à África no século XVI, eram de taipa de pilão enquanto que as casas africanas já eram feitas de pedras.
O poder militar africano era pequeno porque os canhões eram fixos. A supremacia militar só vai acontecer no século XIX com rifles de repetição, espingardas de ferrolho e depois a metralhadora. Os europeus entram na África violentamente e desarticulou suas estruturas. Houve uma segunda colonização na África pela sua própria gente, os jovens que saem para estudar fora e traz uma cultura ocidental. São essas mesmas pessoas ocidentalizadas que entram no comando. 
O europeu tinha o domínio tecnológico e não o bélico. Quando chegava a certos lugares na África para comercializar, os reis lhes ofereciam escravos. Vendia-os para obter bens de prestígio para ter mais amigos, por exemplo. O comércio escravo não era uma perversidade, mas uma condição política e econômica. Era vendido o inimigo, o adversário para se livrar dele. Os africanos não eram comprados por pouca coisa, mas por coisas de muito valor, conchas das Maldivas, tecidos de algodão da Índia, cutelaria e armas da Alemanha, cobre por ouro, eles não tinham cobre e por isso valia muito. 
Aqui no Brasil, a cana-de-açúcar era produto asiático e o trabalho era africano. A indústria (engenho) era acoplada a área agrícola. 
A estrutura da casa grande brasileira foi propagada pela África. A arquitetura das casas era européia, mas a estrutura das famílias era africana. 
No primeiro momento todos os protetorados que entrasse na África tinham que pagar impostos aos reis africanos. No século XIX, por causa da superioridade tecnológica européia as coisas mudam. 
No congresso de Berlim (1884/1885) discute-se a África e decide-se que lá era “lugar de ninguém”, tinha formas políticas arcaicas e por esse motivo a Europa tinha a missão de civilizá-la para chegar num desenvolvimento europeu. A partir daí, se começa a fazer os mapas dividindo-a. Uma partilha irracional, dividindo povos pela metade, colocando povos inimigos num mesmo espaço. Até hoje não se consegue harmonizar esses povos. 
Quanto à escravidão, na África já existia uma escravidão, porém doméstica. A escravidão nunca foi e nunca será benéfica, pois ela se baseia na violência e é um comércio. O que diferencia a escravidão da África e outros lugares, é que ela é racista. Na Grécia, Calcaso, Reino Unido, Bretanha qualquer um podia ser escravo, bastava ser inimigo e capturado. 
Na América a partir do século XVII, negro e escravo passou a ser sinônimo, tanto aqui no Brasil como na África, ser descendente de escravo é algo pejorativo, porém na África é só a pessoa mudar de lugar que sua condição de descendente de escravo desaparece, aqui no Brasil a cor da pele condena onde quer que esteja.

Texto adaptado por Núbia Esteves a partir da aula inaugural do embaixador Alberto da Costa e Silva - curso do museu Afro Brasil,14/05/2005. 
Postado por Safira da África

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